Como será
minha janela é uma televisão reproduzindo lembranças
lembranças e culpas
coladas em frases e palavras soltas
quantas palavras loucas
roucas palavras ditas pra nada
Em conversas vazias
lá fora as "onze horas" florescem
insistem em deixar claro
o novo de todos os dias
me pergunto : como é o novo?
será que virá em meu socorro? Ou
será mais uma desculpa sem causa
uma imagem grotesca de um gif
repetitivo e sem efeito
será que em sua via crucis
meu coração insiste em ponderar
o que de longe resiste
como uma nuvem inalcançável
promessa de chuva abundante
em anos de secas alegorias
minha razão é um espectador
Em busca de um inverno
de poesias
vide noite vide dia
nada mais te encanta nesse amor
nem a nuvem nem a chuva
só a poesia te resgata
só ela te alcança
e a ela não pertenço
sou o cantor de palavras vazias
e versos incultos
sou um insulto ao verão que se anuncia
minha janela é uma televisão reproduzindo
culpa
lá fora as "onze horas" lembram conversas vazias
o novo é uma desculpa sem causa
e a chuva?
nem a chuva que molha o Planalto
tem poesia
meus versos são um insulto
um indulto ao meu adeus.
Ana Luz