Labirinto Ocasional

Não, não sei escrever sobre tristeza!

Mesmo que os sinos do campanário

dobrem langorosamente...

ou na masmorra meus sonhos agonizem,

mas o último pranto ficará como legado

de um Eu que lutou ardentemente

pela sincronia dos homens, a igualdade entre si,

sem amargurar os farelos de desdém atirados pelos impiedosos

na pura maledicência de humilhar os incautos e fracos de espírito.

Meu tempo não é d’agora... já percorri inúmeras milhas de chão

esbatendo em rochas sólidas de devaneios tolos,

mas a lamúria dos meus atos não se perpetuará por meio da escrita.

A minha escrita que não foi adestrada para a leitura meã de poucos,

no ar rarefeito da incongruência.

Sofro de overdose do milagre vida, e sobrevivo dela.

Comparo-me ao aldeão que espia o céu ausente de nuvens,

mas tem a esperança nas ferramentas de trabalho, do seu suor.

O tempo da colheita baterá à sua porta,

e o campo estará a seu dispor e o trigo reinará absoluto

e o camponês levantará os braços ao céu, em louvor.

E a mesa será farta e abundante, e família, os vizinhos lavradores,

todos hão de celebrar.

Não descreverei cenas tristes porque admiro a persistência dos inválidos.

A bravura dos desacreditados.

O alvorecer dos desafortunados.

A resistência dos miserandos.

A relutância dos náufragos.

A resiliência dos enfermos.

A neutralidade dos inconformados.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 24/11/2017
Código do texto: T6181291
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