Arranjos do Tempo

A um sopro do vento,

levas de folhas secas valsam estilosas,

mal comparando, airosas,

como se fossem borboletas volteando a espavento.

Despem-se de suas árvores frondosas

- quais páginas de velho calendário pregado à parede,

sacudidas, deixam suas bases fibrosas

e jazem no meio fio dos canteiros em rede.

Mais uma rajada,

outro punhado de lâminas se desprega da galharia

e flutua em forma espiralada,

projetando piruetas aéreas, à revelia,

juntando-se aos montículos já deslocados no chão,

à palma da mão.

Dois olhinhos miram a trajetória das folhas,

- que se despedem com realeza -

e contemplam com se fossem bolhas,

o maravilhoso baile da natureza.

O menino, na pequenez de sua idade,

pensa grande, igual à gente adulta:

tudo ao nosso redor se transmuta,

as mudanças acontecem com velocidade,

o tempo cuida desse processo de novidade.

Percebe a presença de pássaros errantes;

bicam sutilmente flores em forma de cálices coloridos,

uma nuvem de abelhas acirrantes

rente aos cachos dos frutos amadurecidos.

Do banquinho da praça,

o garoto dá conta de um grupo de meninos

que pratica brincadeira, arruaça,

casais inúmeros gesticulam e trocam mimos.

O pequeno espectador

retira da mochila sua flauta de taquara

e com ares de tocador

seus lábios produzem notas de beleza rara.

O vento continua desprendendo a folhagem...

o menino propaga com suavidade a cantiga dos anjos...

o sopro de ambos transforma tudo... e os arranjos

do tempo modificam toda a paisagem...

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 24/11/2017
Reeditado em 04/11/2019
Código do texto: T6181302
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