Dos Sonhos

Melífluo o canto do pássaro

que se apoderou do lúmen das estrelas

e contornou toda abóbada celeste

para compartilhar seu trinado comigo.

Ao ruflar suas asinhas chispam raiozinhos

assemelhando-se a um círio, no ar se projeta

e me leva um punhado de sonhos

que trazia em meu embornal:

eu os guardava como se estrelas fossem.

Não armei minha tenda de nuvens em flocos

mas esperei ansiosamente a quentar sol,

meu corpo espraiado na campina verdejante.

Não sei exatamente as horas, mas a tarde avança.

Apenas sei que inspiro contentamento,

até que o pássaro de asas em chamas

retorne ao ponto de partida

com o meu embornal enxameado de sonhos.

O sereno da noite já me arrepia a pele.

O pássaro alumiado entorna com o seu biquinho

a água do recipiente posto à janela,

e conto um a um meus sonhos devolvidos;

estão polvilhados de neve...

abraço-os calorosamente

e escancaro as cortinas para banhá-los

de estrelas.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 24/11/2017
Código do texto: T6181311
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