Por todas as coisas

Por todas as coisas

O tempo, nesse outono, parece querer nos dizer alguma coisa

Posso ouvir sua voz vindo no vento,

Declamando poemas antigos,

Cantando músicas resfriadas pela chuva:

...te seguir até o quarto, despi-la ....

Diante dos olhos de um boneco (the pig)

Como se tudo fosse uma brincadeira ainda.

Nessa viagem vejo uma menina e sua saia azul marinho

E um menino de cabelos longos caregando seus livros.

Caminham sobre o meio-fio da história

Como dois personagens de um enredo,

Dois dançarinos da noite ao som de um blues.

Seus pés não estão em sintonia,

Seus passos se perdem no ritmo da dança

Mas mesmo assim adormecem abraçados por toda a madrugada

E trocam beijos como se o tempo

Pagasse uma dívida com o não terminado.

Dentro do quarto não sabemos em que ano estamos,

Nossos olhos são telas ilustrando o que falamos.

Deixamos algumas feridas lá fora

Que às vezes batem na porta

Pedindo para ser tema da conversa.

Permitimos que entrem, mas nos protegemos um no outro.

Então elas voltam para o portão da casa e esperam nossa saída.

O tempo, nesse outono, parece querer nos dizer alguma coisa.

Posso sentir suas mãos sobre minha cabeça

Penteando meu cabelo, fazendo sobrancelha.

Os meninos agora fazem o breakfast,

Recordam coisas engraçadas e voltam para o quarto,

é lá que vivem e se transportam pela vida.

Passam todo o tempo juntos,

Respiram o carinho inocente de quando namoravam na rua.

Sonham com jardins de girassóis alimentando insetos,

Como minha língua lambendo seu pescoço,

Mordendo seu girassol tatuado.

O tempo nos chama para a realidade quando anoitece.

Voce se despe da saia azul marinho

E eu troco as havaianas pelos sapatos.

Saímos para a rua mais fortes do que a noite

Em que comemos batata calabresa.

E o domingo, em Jacarepaguá,

Assite a despedida entre a advogada e seu lindo sorriso

e o presidente, um latin lover frustrado.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 24/08/2007
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