Um poema quase verdadeiro

É claro que não conseguirei escrever

Um poema sobre os gatos.

Afora os problemas de idioma

Que dariam saltos e alongariam

A breve vida das palavras...

Não tenho o instinto milenar

Desses seres iluminados

É escuro escrever sobre gatos

Já sendo sempre escuro escrever

Eis que o papel nunca comporta os pelos

Que se desprendem do corpo

E rondam livres o ambiente...

Um poema sobre gatos

Talvez fosse um poema verdadeiro

Aquém do que posso, escrevo

Um epitáfio a ser lançado

Sobre o templo diário da vida

Pr’além das minhas posses espirituais

Mas vindo do afeto puro que me dão:

Viver como os gatos

Até parecer gato, finalmente.