Do que é feito o silêncio...

Toda hora é um mês mais profundo

que o fundo dos meus olhos

cheios de oceano.

Todo segundo badala desertos inteiros

no meu cotidiano

onde arranco meus fantasmas e os espalho

ao vento.

Mas me voltam como pássaros negros

trazendo a noite duradoura pra mim

e quando nela me deito

meus olhos não conseguem se desgarrar

que o dia já foi embora.

Queria ter a nobreza de seguir caminhando

sem tomar nota dos passos que ficam para trás.

Queria a coragem pra apenas

continuar, um anjo torto ou não,

para um lugar qualquer

onde não penso no invisível

no que já não é mais tátil,

no que já não é mais sorriso,

ou jardim de tulipas,

ou texto riscado em rascunho

para dizer coisas lindas.

O tempo me esmaga e me comprime

e eu não tenho mais a liberdade

para escolhas, pois resta apenas uma direção,

uma canção ressoando

no meu coração:

“e assim, no teu gosto eu fui chuva

Jeito bom de se deixar viver”.

E raro silêncio,

meu corpo é máquina

clamando a alma dos colibris

para eu ficar mais perto de mim...

Márcio Ahimsa

Citação da música: “Quando fui chuva” de Luis Kiari E Caio Soh