No fundo do baú

Tempos difíceis

de procurar antigos poemas

no fundo do baú...

e quando ressurgem, amarelados,

cheirando a guardados,

quase não têm mais sentido.

Tarefa tão árdua

essa de se desapegar dos sonhos

que, hoje, só parecem

delírios...

Tempos tão práticos

onde tudo parece ter solução

nas mãos de um especialista...

E não faltam autoridades

do saber

para registrar enganos

e transformar memórias,

aromas, paisagens, sabores

em desbotadas cores...

E, tudo isso, com apenas

meia dúzia de palavras

fatais...

Tempos despoetizados...

anoréxicos, amargos...

em que o fruto da árvore

mais familiar...aquela mesma

no fundo do quintal...

fez-se instrumento de condenação...

e, expulsos do paraíso

choramos de saudade,

despidos das lembranças

mas, cheios de razão.

Tempos de poemas escolhidos

por críticos exigentes...

de textos politicamente corretos

e pseudo-delírios formatados...

tudo impresso...nada escrito

com o abandono e despreocupação

das letras tortas...e desiguais.

Tempos de sentidos mortos...

que, sem o saber, repetem

tudo que já foi dito...

como se fosse novo...

Não há mais lugar para esses velhos escritos...

A não ser...no fundo mais fundo de um antigo baú...

Mareluz
Enviado por Mareluz em 02/03/2018
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