Mulher-criança
Não sou de hoje,
mas de todos os tempos...
Antes, nunca precisei de reconhecimento
para ser feliz
ou de indiferença e abandono
para me sentir miserável..
E, hoje, não é um salário que me fará livre...
Não é um traje que vai me transformar
em rainha...ou em escrava.
São esses pensamentos, e sentimentos
as únicas bússolas de meu existir..
E na terra indevassável que eu habito,
no corpo que a mim foi concedido pela Mãe Natureza,
há sempre um jardim florido...perfumado
mesmo quando a vida obriga a recolher detritos
para sobreviver...
Sou mulher, não por condição..mas por um misterioso
desígnio...
Além das imagens,das escolhas, das máscaras,
a feminilidade busca em mim sua expressão.
Depois que o véu das aparências se afasta
mostrando minha verdadeira face...
deposito as armas em um canto qualquer
e, completamente absorvida por um instinto
maternal
cuido da criança que me foi emprestada pela vida...
e não vejo outra maneira de adormece-la
a não ser com essa canção que o tempo me ensinou...
E,quando, ao amanhecer, tiver que retomar às armas,
que seja para lutar por ela...
por essa criança adormecida,
que ainda não acordou pra vida...
Mulher-criança, dentro de mim...