boredom

meus fantasmas deram agora

de se fazer de existência

não esperam mais a mesa branca

o ritual com velas e objetos decorativos

surgem

tropeçam nas coisas

arranham

estragaram a pintura da minha geladeira

deixam marcas indeléveis

e as pegadas na cerâmica branca do banheiro

haja cloro pra remover

gostava mais quando não tinham cara definida

ou vinham com a aparência deformada

como a dos filmes de terror

era um negócio mais reconhecível

queria saber quem lhes empresta um rosto

ou será que escolhem por si sós?

tem uns outros

picardios que são

que resolvem ser na forma de bicho

gato, cachorro, mariposa...

sabem que tenho uma queda por bicho

que sou capaz de me arrebentar por causa de um gato

fazem troça da minha cara

é certo

devem rir aos montes

e eu

pobre cético

um pé no misticismo e outro na incredulidade

fico parvo

vejo as formas

ouço os estalos, farfalhos, os atritos

e nada faço

convenço minha mente do contrário

são fenômenos naturais

perfeitamente cabíveis nalgum sistema lógico

pertencentes ao mundo das coisas

destas que se pega com a mão

e se usa sem refletir o porquê

meus fantasmas

--uso o plural por que são muitos--

têm hábitos peculiares

gostam de bulinar nas minhas nádegas

uns outros batem asas no meu ouvido

tem os que sopram na minha nuca

sabem que gosto disso

estes merecem maior crédito e confiança

são da casa

formam minha família

herdarão minha herança

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 13/03/2018
Reeditado em 07/04/2018
Código do texto: T6278977
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