Ainda sou o poeta

Como não ser mais o poeta que você amou, sendo ainda você uma inesgotável fonte para minha poesia?

Não há céu sem estrelas.

Às vezes temos a impressão de que não há estrela no céu, quando tudo está nublado.

Mas depois o vento carrega as nuvens e lá estão elas brilhando como sempre.

O poeta é o céu, e também é o vento que empurra as nuvens.

Quando ele é estrela, não brilham todo o tempo,

Pois logo virão as eternas nuvens ciganas nublando tudo em volta.

Então a poesia aparece para afastá-las e deixar o poeta com brilho novamente.

As medidas que damos aos poetas não podem ser distintas das que damos ao homem que faz a poesia.

Se os olhos do poeta estão turvos pode ser indicativo de que o homem anda triste,

No meu caso, ando triste por não encontrar eco nos seus ouvidos para as canções que canto em silêncio.

Como não ser mais o poeta que você amou, sendo ainda você uma inesgotável fonte para a minha poesia?

Se você não me conhece então eu preciso saber para onde eu fui durante esse tempo,

O que fiz para ficar tão diferente e estranho.

Meus dias são ainda pintados pela poesia que tão bem você conhece e participa,

Tanto fez e ainda faz para que estejam vivas dentro dos meus gestos, das minhas palavras.

O coração do homem, confesso, anda em pedaços, como se fosse resto de comida jogada aos bichos.

O coração do poeta não é diferente, agüenta a pressão só quando pára para escrever,

Como faço agora, no instante em que as nuvens estão atrapalhando a visão das estrelas,

Mas sei que logo virá o vento e você vai perceber o quanto de beleza ainda há nesse seu poeta.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 30/08/2007
Código do texto: T630407
Classificação de conteúdo: seguro