Mais um GRITO apenas...

De repente,não mais que de repente...

Ouviu-se um grito abafado

na madrugada calada e fria

De sorte os tiros eram fogos

artifício que muito se ouvia

O dia amanheceu nublado

o céu cinzento estampava

a manchete que ninguém queria.

E a realidade insistia e produzia

Mataram mais um viado!

Quem era, não se sabe

Ninguém ousou perguntar

Pra que falar se posso ficar calado.

Perguntar quem é, é um insulto

a vítima perde sua identidade

e nem aparece família na multidão

que toma vulto.

A polícia chegou, oba! estamos salvos

Demarcou o lugar com fita

flertou com algumas meninas

e saiu para almoçar.

Ontem deu no jornal a notícia do artista

E o gatinho da internet que viralizou

Mas o corpo do viado, que foi cortado

surrado e amarrado...Desse ninguém falou

Não era gente, era viado…

Nem família tinha, a mãe não falava

o pai pôs pra fora e os irmãos ignoravam

À sociedade só servia de escárnio

Mas era apenas mais um

Jazia assim o corpo ainda quente

E nem era pai de família

Por ser “viado” deixou de gente.

Vixi, mataram mais um viado.

o corpo no chão ressequido

o sangue embebendo a terra

servia aos passantes de atrativo

Mataram mais um viado

É assim que ouvimos falar

Quem de noite servia de alegria

E nas rodas era motivo de piada

Agora está jogado ao chão a agonizar.

Não se ouve uma voz

Ninguém ousa questionar.

Perdeu seu direito a vida

Nas mãos daquele que na calada da noite

sempre ia lhe procurar.

Mataram mais um viado

Mais um que se vai sem justiça

Não o conhecia mas me vejo em seu lugar

Poderia ser eu naquele chão

Choro com o grito abafado pelo sangue derramado

Não de um viado, mas de um irmão.

Mathos
Enviado por Mathos em 12/04/2018
Reeditado em 20/04/2018
Código do texto: T6306874
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