Metamorfase

Vou escrever um poema sem sentido

e dele fazer uma música sem melodia

sobre um amor que pensei ter tido

fruto da loucura não feita um dia.

Ele será assim: vi duas lagartas dialogando

escutei bem a reclamação de uma:

“quero ser bela, ter asas e sair voando”.

Uma borboleta passava sem atenção nenhuma.

“um dia você será tão ou mais bela...”

— Replicou a outra apontando a borboleta —

”...e sairá radiando beleza como aquela,

mas tenha calma, tem coisa que não se ganha em roleta”.

Disse ainda a sonhadora:

“que bom seria, se não tivesse o cásulo

tempo de reclusão, solidão desesperadora

e fosse logo para a glória, sem tempo nulo”.

“não há tempo nulo”, disse a outra.

“E para quê tanta transformação?”

quis ainda saber a sonhadora douta

procurando asas em seu corpo em vão.

Elas ficaram sem a reposta

na verdade, nem sei se tem.

É fácil querer o que se gosta

dificil é fazer o mesmo caminho também.

E o poema sem sentido que me pus a escrever

foi querer de alguém o bálsamo do amor

mas não queria esforço algum fazer

assim como o tempo gasto sem dispor.