epitáfio

Epitáfio

Quero meu epitáfio largado,

em um chão qualquer

deste solo árido e seco

tal qual meu coração foi em vida.

Quero apenas a nudez de meu corpo,

alvo, rijo, seco e intumescido,

agarrado à maca fria,

sendo cremado ,

junto ao fogo abrassador.

Quero ver meus amores,

desejos e gemidos contidos,

pelos lençois testemunhados,

ecoarem em meio à fumaça

evaporada de meus orgãos

sendo dilacerados pela brasa,

que nunca me consumiu em vida.

E depois, recolham os restos mortais

de alguém que pelejou com a vida,

com calos e feridas n'alma

de tanta derrota e pouca vitoria,

sendo lançados aos punhados,

onde há de passar o bonde

rumando para Santa tereza,

talvez ali, bem no epicentro,

onde a linha corta o coração da lapa!

Sim, ali, hei de estar segura,

da alegria de meus inimigos,

e ficarei feliz em saber,

que meu corpo retumbará

em lufadas de vento,

no local onde dancei a arte da existência.

Se as cinzas caírem

sobre algum pobre mortal,

não sejam incautos!

recomendem-no um banho

de sabão de barrela,

para afugentar a alma de outrem

e o mau presságio de um fantasma.

Por derradeiro, coloquem apenas

um epitáfio sobre um monte

ou um feixo de capim,

no mármore gélido e pálido

do branco feito minha tez,

em letras ornamentais,

com o negrume autêntico:

AQUI JAZ ALGUÉM QUE EM VIDA

FOI ATORMENTADA

E AGORA DESCANSA EM PAZ!!!

03/09/2007

ninethe
Enviado por ninethe em 03/09/2007
Reeditado em 15/09/2007
Código do texto: T636533