Sublimação Poética

Tantas vozes

Bem-feitos versos

Me circundam a cabeça

E atrofiam todo meu progresso!

Pois de que serve o indivíduo criar

Se a poesia em nada acabar?

De que servem as poesias

Nem quentes nem frias?

As entrelinhas, por fim

Se não segredam nada do espírito?

Tantos dias

Tantos séculos!

Em que se trabalhou com afinco

Sobre a seiva bruta

Sem deixar nada para agora

Para eu também modelar meus gestos

Meus alcances meus imaturos versos.

O vermelho o frio da noite

Dentro de mim só em mim.

O vermelho o sangue na boca

Que escorre nos dentes de mim

Só em mim.

O vermelho da veia que pulsa

Da veia que escapa do sangue que vaza.

O vermelho o sangue

A veia partida os olhos que fecham.

Eu tremi resisti

Ao beijo de sangue na língua

No centro da boca.

Eu tremi resisti

Ao sangue que falta.

Pois vejo pingar da pele

A poesia rarefeita

Quem sabe desfeita

Ainda no âmago do ser.

E sempre que tento refazer

Parece que comigo não quer renascer

A exclamação que pensei ter criado.

Portanto

Diz a má-lingua [minha]:

Pareço poeta de tralhas

Que se alimenta das migalhas

Tentando negócios

Ao destruir os troços

Discutindo do dia os reversos

Com a senhora meio louca

Que encontro no coletivo.

Ah, antes fosse como nos sonhos

Em que me pego dizendo

Com voz de falsete

Ainda entre escombros:

Benditas liras

Benditos ventos

Órbitas de versos elípticos

Que se achegaram

E revelaram

Produziram em mim

Transformações

Peroladas revoluções.

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 05/09/2007
Código do texto: T639776
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