Sublimação Poética
Tantas vozes
Bem-feitos versos
Me circundam a cabeça
E atrofiam todo meu progresso!
Pois de que serve o indivíduo criar
Se a poesia em nada acabar?
De que servem as poesias
Nem quentes nem frias?
As entrelinhas, por fim
Se não segredam nada do espírito?
Tantos dias
Tantos séculos!
Em que se trabalhou com afinco
Sobre a seiva bruta
Sem deixar nada para agora
Para eu também modelar meus gestos
Meus alcances meus imaturos versos.
O vermelho o frio da noite
Dentro de mim só em mim.
O vermelho o sangue na boca
Que escorre nos dentes de mim
Só em mim.
O vermelho da veia que pulsa
Da veia que escapa do sangue que vaza.
O vermelho o sangue
A veia partida os olhos que fecham.
Eu tremi resisti
Ao beijo de sangue na língua
No centro da boca.
Eu tremi resisti
Ao sangue que falta.
Pois vejo pingar da pele
A poesia rarefeita
Quem sabe desfeita
Ainda no âmago do ser.
E sempre que tento refazer
Parece que comigo não quer renascer
A exclamação que pensei ter criado.
Portanto
Diz a má-lingua [minha]:
Pareço poeta de tralhas
Que se alimenta das migalhas
Tentando negócios
Ao destruir os troços
Discutindo do dia os reversos
Com a senhora meio louca
Que encontro no coletivo.
Ah, antes fosse como nos sonhos
Em que me pego dizendo
Com voz de falsete
Ainda entre escombros:
Benditas liras
Benditos ventos
Órbitas de versos elípticos
Que se achegaram
E revelaram
Produziram em mim
Transformações
Peroladas revoluções.