Os olhos ávidos de todos nós!

“Se nós não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em notá-los nos outros.” (La Rochefoucauld).

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

do último olheiro da terra.

Ele sabe de tudo e se cala,

sabe das falas e não fala,

das dores e dos temores

de cada ser que leva a vida

no frescor desse Vale...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que não precisava

de olhos, ele que tão bem

discerne o mal do bem,

o puro do impuro;

somente ele distingue

o além do que há aqui...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que sabe que o amor

de Letícia pertence a Simão,

que o coração de Simão palpita

pela menina da casa de pedra,

e que Paula, a doce menina

da casa de pedra, nem sabe

nada sobre o amor ainda...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que sabe dos versos

secretos que João Paulo

dedica à Maria;

daquele que sabe

que nas noites escuras

Josué espia Maria

quando ela vai se deitar,

daquele que vê quando

Maria vai se encontrar

com Décio na pedra do mar...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que viu, quando o

negrinho Tiziu, saciou-se

com a dama de companhia

da moça mais pura da Vila.

Aquela que do magno jardim

de casa, nas noites de lua,

sai de sua casa para ver

os afagos, que os homens

que pagam recebem

das mulheres de rua...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que sabe que a peça

encenada, não era cena,

que no beijo do ator e atriz,

tinha amor, queriam bis.

Daquele que viu, quando

da platéia, brotaram duas

lágrimas dos olhos da

menina que sonhava

ser a estrela deste

teatro da vida...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo,

os olhos ávidos de todos nós...