A minha ventura

Numa senda inconstante,

de veredas informes e céus ignóbeis;

criaturas infames

de intenções sórdidas

estendem-se à espreita do meu caminhar.

A lua, hermética,

num mistério pungente e de olhos medonhos,

revela-se abutre,

vilã maternal

de meus medos ocultos, sonho kafkiano.

Um regato furtivo,

por vezes Estínfalo,

noutras abrigo,

concede-me a égide pra permanecer

e então prosseguir nas escarpas profundas.

O fim que oponho-me,

o deslinde da dor e da perseguição,

o afogar desta ânsia

e o cindir deste tempo,

custa-me a alma, minha juventude.

Pois sei que ferir-me,

ulcerar, transgredir, grunir e rasgar,

é tudo o que tenho

pra lhe entregar;

a dor andarilha de todo o meu tempo.

Ao findar desta noite,

sob a epifania dos ventos e raios,

eu quero encontrar

outros olhos serenos,

pra lançarem em mim o feitiço do fim.

Eu quero acabar-me,

roer-me numa cruel transgressão,

sentir esfolar-me

sem anestesia,

inalar a fumaça da introspecção.

Viver o ananke,

o escrito das moiras;

A catarse,

indulgência,

minha redenção.

Eduardo G Silva
Enviado por Eduardo G Silva em 05/08/2018
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T6409794
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