A minha ventura
Numa senda inconstante,
de veredas informes e céus ignóbeis;
criaturas infames
de intenções sórdidas
estendem-se à espreita do meu caminhar.
A lua, hermética,
num mistério pungente e de olhos medonhos,
revela-se abutre,
vilã maternal
de meus medos ocultos, sonho kafkiano.
Um regato furtivo,
por vezes Estínfalo,
noutras abrigo,
concede-me a égide pra permanecer
e então prosseguir nas escarpas profundas.
O fim que oponho-me,
o deslinde da dor e da perseguição,
o afogar desta ânsia
e o cindir deste tempo,
custa-me a alma, minha juventude.
Pois sei que ferir-me,
ulcerar, transgredir, grunir e rasgar,
é tudo o que tenho
pra lhe entregar;
a dor andarilha de todo o meu tempo.
Ao findar desta noite,
sob a epifania dos ventos e raios,
eu quero encontrar
outros olhos serenos,
pra lançarem em mim o feitiço do fim.
Eu quero acabar-me,
roer-me numa cruel transgressão,
sentir esfolar-me
sem anestesia,
inalar a fumaça da introspecção.
Viver o ananke,
o escrito das moiras;
A catarse,
indulgência,
minha redenção.