Espera-me
Espera-me na volta.
Saí para trabalhar e me perdi
Não quis fugir de ti, mesmo assim estou longe.
As ruas foram virando becos.
Os becos foram virando charcos.
Os charcos foram virando sonhos.
Os sonhos, pesadelos.
Espera-me na volta.
Quero te reencontrar.
Não tem um dia em que não pense em ti,
Nunca mais te vi...
Nem com aqueles olhos de desespero com que me fitavas no espelho.
Sinto falta das tuas bravatas e dos teus descontroles.
Hoje só há um controle rígido que não permite um passo em falso.
O equilíbrio é frágil, mas é a única coisa que ainda me mantem vivo.
Espera-me na volta.
Com a porta destrancada e um café quente.
Te encontrarei sentado na mesa de madeira naquela tarde chuvosa.
Sentarei no teu lugar e te contarei a minha história.
Duvido que gostes, mas espero que entendas.
Espera-me na volta.
Calado, sem julgamentos,
Se possível de olhos fechados no escuro.
Não me toque, apenas respire.
Fitaremos a chuva fina e o que está para além dela.
Espera-me com um beijo e um destino.
Um norte e um abrigo.
Para que eu possa chorar como o céu nesta tarde
E me reencontrar com tudo que ficou mofando
Nos baús e nos armários.
Espera-me.