Enigma

quantas luas encheram

de prata o círculo

do meu coração minguante,

quantas colheitas ceifadas

não puderam vingar antes

para que tantas luas novas

percorressem o quadrante,

o céu vira um traçado

de giz que me diz

quantas luas crescentes

se desfizeram em sonhos,

quantas luas opacas

eram a minha casa

e em quantas luas negras

eu pude vê-la com seu punhal,

o quarto crescendo exuberante

em seu brilho diagonal,

quantas luas eram pérola

dentes sibilantes sorrindo

quantas esferas de lua

seguindo meus passos na rua

a lua turca, a lua turva

embaçada e opala

a lua n'água

a deusa na testa pintada

quantas luas cheias

esvaziaram-me a alma,

quantas luas sinistras

vazaram o azul do céu

riscando o caminho,

com quantos raios de lua

eu me cubro dormindo,

o céu é o santuário

de marfim que me diz

quantas luas minguantes

ainda estão por vir,

em quantas faces negras

tornarei a vê-la linda

resplandecente em seu punhal,

quantas luas perderam-se

no sangue inocente

quantos quartos crescentes,

a lua absoluta reina

na floresta escura,

calma e soturna

além, muito além,

guardada pelo dragão

que ela oculta.

cassia fistula
Enviado por cassia fistula em 08/09/2007
Reeditado em 08/09/2007
Código do texto: T643529