Ao nascer do sol
Bem cedinho, ao nascer do sol,
já começava o labor...
menina, sempre menina,
voltando à escola...
No ombro sacola pesada,
quase sempre recheada
de livros, cadernos,lápis,
caneta,régua, apontador...
mais tudo que precisava
pra espalhar um saber
que sabia não lhe pertencer
se não fosse pra ensinar.
Um hábito? Uma vocação?
Um vício? Predestinação?
Se parasse pra se perguntar
nem mesmo sabia
porque sempre retornava.
Pelo salário tão minguado?
Pra honrar a promessa
feita a si mesma em criança
em um remoto passado?
Pra sair da mesmice
de um trabalho braçal
que certamente a esperava
sem outra qualquer opção?
Se acaso houvesse um tempo
pra se perguntar...
não saberia a resposta,
aquela mesma que esperava,
dos alunos desatentos...
porque sem querer se tornava
máquina de repetição.
E dia a dia seus gestos
eram quase iguais...e monótonos.
Quase um trabalho braçal
como lhe era exigido...
por alguém que havia esquecido
que um dia havia sonhado...
Assim, todos os dias,
às primeiras luzes suaves
do amanhecer
saía a menina, com seus pertences,
levando nos ombros projetos alheios
ao seu querer...