"maresia"
mar aberto, mar adentro
com o corpo doendo
ir vencer, latitude e longitude,
ir arrebentar na costa
madeirame, viga por viga
ir quebrando feito onda
navegar até achar o mundo
ou me perder, mar oceânico
mar de vastidão, o corpo
doído estalando prestes
a tombar, náufrago
ir dar do outro lado
atravessar o mar deserto
o mar calcinado, o sol
sempre a pino dentro de mim,
náufrago, ir de encontro
à praia viva repleta de conchas,
solitário me vencer pela audácia
pelas correntes que passam
em meu corpo salgado,
mar de fogo, mar de louco
ir até achar o mundo
ou me perder, o mar profundo
a água de um azul soturno
a água é tudo o que há
em mim, ir quebrando
bater contra o leito
mar de rotas, mar de ventos
a terra firme que se aproxima
some, desaparece no horizonte
mar de sonhos, mar de estrondos
as ondas batendo enquanto
meu corpo se decompõe,
o mar estreito e sinuoso
que só concede um caminho,
sem paradeiro morrer
sozinho em seus rochedos
mar de pedras, mar de trevas
as águas negras traiçoeiras
que me levam e me crestam
mar de algas, meu corpo
parte-se em plâncton e brilho
ir de encontro ao desafio
mar morto, mar vivo.