Poema do mar e das marés
São uns meus momentos
Em que o mundo e o seu redor
Parece cair em minh’alma
Com o peso de um mar inteiro
Salgando, molhando
Cada pontinho mínimo de átomo
Do qual me formo.
O mar pesa todo dentro de mim
Com sua vida violenta
Em ondas, em rebentações
Que assolam as margens
Que assolam os lugares.
Eu nasci da profundidade escura dum oceano
Onde o choque contínuo entre as águas
Das águas com as rochas
Das águas comigo
Produziram uma sinfonia íntima
Aguda e única
Fazendo vibrar as partículas que me envolviam.
As marés me arrastaram, por fim, até aqui
No instante exato do movimento cósmico
E despertei num silêncio natural
Pois o que minha mãe cantava para mim
Quando criança
Eram silêncios.