A negra fúria Ciúme

Morre a luz, abafa os ares

Horrendo, espesso negrume,

Apenas surge do Inferno

A negra fúria Ciúme.

Sobre um trono cor da noite

Jaz dos Infernos o Nurne,

E a seus pés tragando brasas

A negra fúria Ciúme.

Crespas víboras penteia,

Dos olhos dardeja lume,

Respira veneno e peste

A negra fúria Ciúme.

Arrancando à Morte a foice

De buído, ervado gume,

Vem retalhar corações

A negra fúria Ciúme.

Ao cruel sócio de Amor

Escapar ninguém presume,

Porque a tudo as garras lança

A negra fúria Ciúme.

Todos os males do Inferno

Em si guarda, em si resume

O mais horrível dos monstros,

A negra fúria Ciúme.

Amor inda é mais suave,

Que das rosas o perfume,

Mas envenena-lhe as graças

A negra fúria Ciúme.

Nas asas de Amor voamos

Do prazer ao áureo cume,

Porém de lá nos arroja

A negra fúria Ciúme.

Do férreo cálice da Morte

Prova o funesto azedume

Aquele a quem ferve n’ alma

A negra fúria Ciúme.

Do escuro seio dos fados

Saltam males em cardume:

O pior é o que eu sofro,

A negra fúria Ciúme.

Dos imutáveis destinos

Se lê no idoso volume

Quantos estragos tem feito

A negra fúria Ciúme.

Amor inda brilha menos

Do que sutil vagalume,

Por entre as sombras que espalha

A negra fúria Ciúme.

Iacoe Michaela
Enviado por Iacoe Michaela em 13/01/2019
Reeditado em 14/02/2019
Código do texto: T6550298
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