O QUE É SER POETA?
Ontem me perguntei por que escrevo
Não me revidei de imediato
A memória vasculhei, encontrei nada
Sem um intuito óbvio
Continuei a dedilhar
Mas, sem deixar de pensar na questão que tanto me atenuava
Talvez satisfação de ego
Uma contemplação à minha natureza grosseira de homem
Algo que me remeta a um mundo intelectivo
Ou pura lascívia talvez material
Por que pensar que posso ser poeta?
Nem mesmo sei o que é um poeta
Como posso afirmar quem sou eu
A vida nem sei o que é
Poderia sim me basear no que ficou convencionado
Alguém deu nome a tudo
Assim sabe-se que o mar é mar por que ele se chama mar
Mas por quê não poderia ele ser chamado Otávio?
Por quê o boi é simplesmente “boi” e nada mais?
As aves por que não poderiam ser Marias das graças se são tão graciosas
Assim considerando as convenções
Então poeta saberia o que é ser um
Sei quem é Fernando Pessoa e das poesias que escrevia ele
Regozijava-se à lavratura de simples versos reversos que de simples nada tinham
Augusto dos Anjos nas tuas reverências ao “verme”
Que se denomina verme e não Josias, que convenhamos lhe cairia bem melhor
Assim escrevo, sem de nada ter certeza
Talvez eu esteja compondo agora um escrito
Que só é escrito por que é o nome que recebeu
Sem liberdades de escolha
Só escolhe o que quer ser, "o homem"
É o livre-arbítrio
Às vezes ele é João, Joaquim, Francisco
Mas às vezes é também porco, é o verme do Augusto
E é por quê não, mas quase nunca...
“Humano”...