MANHÃ CHUVOSA
(Cícero Manoel)
Hoje aqui no meu sertão
Eu acordei encantado
Ouvindo a chuva gostosa
Cantando no meu telhado,
Escutando os passarinhos
Com seus cantos bonitinhos
No aceiro do roçado.
Vi mãe fazendo o café
Encostada no fogão,
Meu pai batendo a enxada
Para ir plantar feijão,
Vi com os pés cheios de barro
Vovô fumando um cigarro
Encostado num pilão.
Vi um cachorro encolhido
Lá no canto da parede,
O meu irmão mais miúdo
Deitado na sua rede,
Na terra a chuva caindo
E o chão seco engolindo
Matando a sua sede.
As portas do céu se abriram
Pra nossa felicidade
E caiu em nosso chão
Chuva com intensidade,
Caindo no chão, ligeira,
Apagando a poeira,
Trazendo fertilidade.
Mãe gritou: “Deus mande chuva!
Só Deus sabe resolver!”
Meu pai disse: “Oh meu Deus
Mande chuva com prazer!”
Naquela manhã singela
No batente da janela
Eu via a chuva chover.
A enxurrada desceu
Sobre o nosso terreiro,
A planta que estava seca
Abriu a boca ligeiro,
O céu chorava pras rosas,
Suas lágrimas chorosas
Saciavam o barreiro.
A biqueira da tapera
Chorou de tanta emoção,
Nesta manhã tão chuvosa
Foi grande a satisfação
De uma família da roça
Na sua tapera grossa
Vendo chuva em seu sertão.
Fazia já um bom tempo
Que por aqui não chovia,
Hoje nós nos alegremos
Vendo a chuva que caía,
Chuva sempre traz fartura
Leva embora a amargura
E aumenta nossa alegria.
(Sítio Ilha Grande, Santana do Mundaú – AL, 30 de janeiro de 2016)