Até a última dose
Era apenas ver teu rosto,
Ou ouvir a tua voz, teu silêncio talvez,
Ouvi cada palavra que digitasse na caixa de mensagem,
Tua voz-minha saindo do meu próprio corpo.
No primeiro gole, ainda estava bem,
Reli todas as nossas mensagens,
Te ouvia a cada palavra, as pausas,
Sentia até teu cheiro de olhos fechados.
No segundo gole já não havia eu,
Uma lágrima presa nos olhos,
O embargo na garganta e eu a te ouvir
Em meio ao nosso silêncio.
No terceiro gole apaguei toda a conversa,
Porque não queria te ouvir no imaginário,
Queria, na verdade, sentir o gosto do beijo,
O valor da pele, as palavra sussurradas ao pé do ouvido.
Na última dose eu já não havia,
Tu estavas no fundo do copo,
Preso na cerveja que eu beberia,
Mas apenas eu te via, e tive a certeza
De que serás todo meu um dia