Alma gêmea

Ouço tua voz no meu silêncio

Penso, então, no vício do momento

Preso a este inglório movimento

Que me explora e draga à tua ausência

Vejo teu olhar me desejando

Sem temer a hora encolhe e quando

Resemeia a morte deste lírio

Que desfaz a força em farto pranto

Vivo sob a espada de um delírio

Que isola a lógica na sombra

E relembra à lágrima um martírio

Torturando a dúvida que sobra

Tua alma é presa a um pensamento

Que renasce em flashes por segundo

E explode em seixos num tormento

Me arrastando do pilar do mundo

Mesmo agora sinto a agonia

Do meu íntimo a te desejar

Sem fazer esforço a me forçar

Reviver um sonho em pleno dia

Imagino só se poderia

Agarrar teu corpo nos meus braços

E beijar-te até te sufocar

No desejo que nos uniria

Ai esse desejo que delira

Derretendo a hora na sua pira

Desfazendo a fúria que, então, finge

Provocar-me se fazendo esfinge

Sinto nossos olhos se cruzarem

Um azul de raio que me atinge

Chega-me o calor do teu desejo

E a tua face lindamente tinge

Flagro o teu olhar constantemente

E em seguida um leve desespero

Da razão que torna em pesadelo

Todo sonho que não vem da mente

Ouço esta razão que impõe receio

Ao calor que cruza esta distância

Atirando cobras no caminho

A temer a minha insistência

É chegada a hora e me levanto

Esmagando medos com meus passos

Quase a flutuar no teu encanto

E os teus olhos me atirando laços

Vejo que, então, sorris sem graça

E os teus lábios tremem levemente

Sobre os meus repousa uma mordaça

Que me cala involuntariamente

Pouso a mão na tua sobre a mesa

E me abaixo num gesto perfeito

Junto nossos lábios que se fundem

Sob aplausos cheios de despeito

D.S.