ENTERRANDO MEUS MORTOS (a Aline Sousa)

ENTERRANDO MEUS MORTOS

A Aline Souza

A sombra que persegue A. S.

“quando não tivermos

mais nenhum desejo

ficaremos juntos

onde estiver Deus”

– Lêdo Ivo (o fruto dos corpos) –

Pego a pá lentamente

a terra voa...

num balé mágico

sinto-me frenético

os torrões batem na madeira

não sei porque faço

apenas rebolo a terra

a poeira se entranha

na calamidade de minhas veias

agora...

a pá treme em minhas mãos!

Não encaro as faces

(quantas faces decreptas!)

mas permaneço empunhado

a misturar-me com à terra

não importa os que me rodeiam

recolho todos os meus mortos

e levo-os em meu alforje

(alforje de meus alfarrábios santos)

jogo terra lentamente

misturando os moribundos ao cosmo

esqueçam-me...

esqueçam dos mortos!?!

Eles ficarão sob sete palmos

abaixo de minha mente frágil

fiquem por lá...

a se estrebucharem no caixão

juntamente com teus vermes

ainda soterro meus mortos.

Ozimar Júnior
Enviado por Ozimar Júnior em 03/11/2005
Reeditado em 26/07/2008
Código do texto: T66942