Como me nostalgia o mundo não-fatídico
Como me nostalgia o mundo não fatídico!
Como me nostalgiam paisagens pintadas com a inocência fantasiosa da velha infância!
Como me carecem os infinitos cenários perfeitos e inexplorados!
Careço-me.
Vivo no mundo dos números palpáveis e das palavras concretas.
Paisagens são coloridas sem pincéis e aquarelas
Cenários são círculos que possuem arestas e caravelas.
Não nutro mais a beleza quase impossível da realidade
Sou fotossíntese das árvores que me cercam e me odeiam; não mais posso enxergá-las
Não possuo amor por devaneios prazerosos,
Minhas divagações habitam apenas o reino do desprazer.
Sou da terra,
Entre raízes, a terra não me é
Da terra, existo sem ser
Existo sem ser.
Na infância perecível, o existir me era alheio
Pela ausência da perene consciência,
Pelo carecer de úteis pensares.
De que me serviriam?
De que me servem, hoje, diante da inutilidade de sua própria utilidade?
A inutilidade de sua própria utilidade
O não-ser do próprio ser
A desafirmação da própria afirmação
Bicho não é ser bicho e talvez essa seja a verdade do mundo.
Flor não é ser flor e talvez essa seja uma verdade a mais.
Bicho e flor só existem na desrealidade dos apenas humanos.
Queria de volta o tempo em que bicho era meu corpo
E flor era meu coração
Agora meu corpo existe pois é peso;
Meu coração, porque palpita.