da importância do gozo

o pão é pouco

e a esperança não está em nenhum porto

nossa sopa esfriou no frio de agosto

o vinho perdeu a cor e o sal o gosto

o sussurro virou esporro

entrou por um ouvido e saiu pelo outro

ainda ouço os espoucos

e o homem louco e ganancioso

com seus ternos rotos

e sua cara de mau agouro

junto com seu séquito de homens toscos

quiseram confiscar meu gozo

apagar meu sorriso

pobres homens tolos com seus pensamentos insossos

não lhes ocorre o gosto de gozar

nem o sabor da verdade sorvida

de uma boca, aos poucos

pobres homens moucos

que trocam abraços por socos

que das frutas não diferenciam polpa de caroço

vingue-mo-nos deles todos

fazendo da lida um ato gozoso

gozem a vida, gozem o gozo

gozem na cara de quem fez muxoxos

gozem com velhos e moços

gozem com as mulheres, aos jorros

gozem com os homens sem pressa e sem dolo

gozem dentro, fora, no entorno

gozem na rua, em casa ou na frieza de um calabouço

sozinho ou acompanhado ou no meio de um aeroporto

gozem rindo, chorando, gozem feito doidos

abram a boca e mostrem os dentes

riam, só riam, riam de si e dos outros

riam um riso frouxo

joguem a cabeça pra trás

soltem o pescoço

tombem o corpo de leve

relevem, o comentário maldoso

deixem que passem os meio-tolos, meio-tontos, os absortos

sei que a vida é séria e pede pressa mas não se esqueçam da importância do gozo

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 06/08/2019
Código do texto: T6713408
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