A DAMA DO CASARÃO

Refúgio de artistas de todas as partes

Paulistas, Cariocas, das Minas Gerais

Gaúchos, Baianos, sempre cabia mais

Tardes de sarau, ouvidos em festa

Violões à rua nas noites de seresta

No casarão da avenida

Sessões de cinema

Música em produção

Poesias em criação

Uma faixa no portão

“Cultura faz bem à vida”

A dona mulher de fino trato

Recebera uma herança polpuda

Tornara-se Mecenas das artes

Calçava somente salto alto

Usava perfumes caros

Colecionava livros raros

Causava inveja e admiração

O desfilar de suas pernas

Adorava coisas modernas

Nenhuma paixão eterna

O tempo é injusto e ingrato

Lento, perene e perverso

Consumiu sua beleza

A bondade levou riqueza

Daqueles anos de bonança

O casarão é mera lembrança

Vinha em minha direção

Passo trôpego e manco

Calçando velho tamanco

Confesso levei um susto

Era a Dama do Casarão

Nas mãos umas flores

O andar refletia dores

Fez-me aceno gentil

O rosto envelhecido franziu

Retrato da solidão

Soube que vaga pela vida,

Vivendo como pode

Aguarda, talvez, a morte

Merecia melhor sorte

Ao menos uma ode

De despedida

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 20/01/2020
Reeditado em 20/01/2020
Código do texto: T6846566
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