Procura-se: um EU

Tanto tempo sem escrever

que nem sei se as palavras vão sair

tá tudo aqui

dentro da minha guéla

quer sair

se expor ao mundo

eu me contorno de dor

de ódio

de vontade de sentir

e de mostrar aquilo que sinto

isso não é um poema

é um confessionário

não falo meus pecados

falo do sofrimento que eu sofri

para estar aqui

do pó eu vim e com barro me moldei

eu me sentia no filme Clube da Luta

eram dois eus que brigavam

um queria uma coisa

o outro queria o oposto

levei soco no olho até meu olho arder

até minha cabeça querer sair do pescoço

eu gritava de agonia em silêncio

e ninguém parecia ouvir

nem tinha como

eu era um mudo comunicando uma dor

um mudo que não sabe libras

agora eu enxergo

finalmente eu saí

da caverna cheia de sombras

com aparências que eu sabia que não era eu

que eu insistia em dar um nome

dar uma imagem

uma forma

finalmente vi o que me faltava

a liberdade para ser qualquer coisa

para ser e não ser

para parecer e não parecer

quando quiser e quando não quiser

sinto que se um dia eu terminar de pintar o meu próprio quadro

eu morro de desgosto

porque o que motiva a minha vida agora não é o fim

é o eterno recomeço

eu não tenho mais nenhuma forma

a superfície deixou de ser meu lugar favorito

nem por isso eu me escondo

nem por isso eu deixo de ver a luz do sol

é só que eu encontrei minha própria fonte de calor

e tudo acontece de dentro pra fora

hoje eu conheço o mundo

segundo o meu próprio mundo

eu sou

eu existo

pela primeira vez em muito tempo

eu posso falar isso.

Endriu Costa
Enviado por Endriu Costa em 14/02/2020
Reeditado em 14/02/2020
Código do texto: T6866363
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