Nova poesia da falência
Não há mais nada.
A revolução foi calada,
A primavera passou,
A voz sufocou,
A pedra caiu
E eu entrei no vazio.
O brilho das estrelas perdeu-se em mim.
Eu digeri
A lua,
Faminto,
Exagerado.
Minha mãe, me ajude a ser poeta mais uma vez.
Porque ser poeta é ser alguma coisa
Além do que eu sou,
E sozinho eu não sou.
Sozinho eu só consigo ser eu mesmo.
Sem calor,
Sem fervor.
Eu só consigo ser eu mesmo,
Pedra bruta,
Opaca.
Não consigo fazer funcionar a poesia,
Nem desvendar os segredos,
Nem desvendar as manhãs.
Pois ser poeta não nasceu comigo,
E eu me perdi em tentativas.
Me perdi nos meus interiores,
Na essência pastosa,
Verde,
Fria e silenciosa,
Que passa a muito custo.
Me perdi num macaréu de emoções
Que não suportei,
Que não suporto.
Eu não consigo nem mais dizer
O quão diluída e apagada é minha tez.
Minha mãe, me ajude a ser poeta mais uma vez.