Reflexões em volta de uma mesa de mar, em uma roda de amigos modernos.


As vozes se misturam. Os tons. Os timbres.
O que menos se ouve é o som da música.
Tilintar de copos e garrafas como acompanhamento.
Tento fazer-me ouvida, pelo meu silêncio
desesperado;silêncio produzido pela solidão
entre tantos.Um gole. Um trago. Um mudo apelo.
                                Um mundo.
Aldeia global que me exclui.
Será que não existe ninguém querendo apenas
tocar em minha mão com ternura?
Tomo uma decisão.
Não tomo nenhuma decisão.
Mas tomo mais um gole de cerveja.
Um pensamento de cada vez, eu penso.
Penso calada.Não digo.Penso só pensando.
Talvez comece a praticar amanhã
pela manhã.
Sempre amanhã pela manhã.
Colégio interno, tempo de ginásio.
Não há mais tempo pois o tempo passou.
Elis Regina na televisão.
Elis Regina já morreu.
Penso nas pessoas que não podiam morrer.
                      Não deviam morrer,
mas morrem. 
Sem nenhuma consideração.
Tenho um pensamento original.
A solidão é um câncer.O que mais mata.
Nada tem de original o pensamento que penso.
Estou confusa. Pensamentos em mesa de bar
nunca são claros. Reflexões refletindo 
os volteios etílicos.
Uma gravura na parede.
Um rio. Uma ponte. Mulher de branco, chapéu na mão.
Que pensamento tinha naquele momento
quem  pintou?
Que sentimento?
Não tenho relógio mas vou embora
dizendo já está na hora.
Ninguém concorda, nem discorda.
Ninguém me pede pra ficar.
Saio. Em busca da ponte. Do rio.