Sangria Desatada

Dei uma pausa na velocidade da estrada

Aquela onde todos querem passar

Mas falta-lhes coragem para enfrentar a barra

Daí fiquei buscando respostas na madrugada

E percebi que meu guarda-roupa está cheirando a naftalina

O mesmo aroma das novidades do mundo

Esse ferro-velho que beira a estrada

Nos pára-choques amassados, cemitérios de ideias

Letras de música, pílulas e raios de sol entre as folhagens

E aqueles olhos vermelhos de ressaca

Corpo e mente e carros movidos a álcool e gasolina

A estrada leva aos confins da minha turma

Entre memórias de festas apocalípticas

E paisagens obscuras de janelas fechadas

Todos os meus amigos também pararam na estrada

E ficaram buscando respostas no vento

Que desalinha cabelos e moinhos distantes e telhados

E todos nós percebemos que as solas dos sapatos

E as asas das xícaras e os bicos dos bules

E todos os ases e coringas dos baralhos estão sobre a mesa

E a mesa está na sala de jantar da puta que pariu

A mesma sala que tem uma janela aberta

Onde resplandece a visão da estrada

Que tem as mais diversas respostas para a mesma pergunta

E eu continuei parado com os meus amigos

Buscando outras respostas que a televisão escondia

Ou não sabia já que é apenas cultura de massa

E ondas de rádio e antenas de balões estratosféricos

No crepúsculo róseo da fossa melancólica

Ficamos parados como se soubéssemos a verdade

Escondida no asfalto da estrada

Mas continuamos todos observando a sujeira do mundo

E todas as caixas que guardam impurezas da alma

Dúvidas e obstáculos e armadilhas perigosas

Dos cabarés e das zonas de baixo meretrício

E dos hotéis e dos altares e dos bares de cívica pornografia

Que encontramos durante nosso percurso na estrada

Aquela mesma que beira vasos sanitários e urinóis

E latas de lixo e outras moradias de ratazanas

Que dividem o mundo com nossa espécie

O gênero que pertencemos nessa imensa sujeira

Mas dizem que a estrada corta vales verdes também

Talvez essa seja a resposta que todos nós buscamos

Meus amigos duvidam e eu não tenho certeza

Todos nós estamos ilhados com várias verdades ao redor

Inalcançáveis palavras mudas sem vocabulário

Mas continuamos na estrada buscando as respostas

Mesmo que continue esta sangria desatada

Paulo Barreto Jr
Enviado por Paulo Barreto Jr em 06/04/2020
Código do texto: T6908193
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