O SOLDADO

Só sei das fronteiras que sangram

Aquém da certeza, além do tempo,

Na lama dum vale de esqueletos,

Trincheiras desertas e cercas

De arame farpado, reticentes

E austeras, no escuro.

Fulguram no céu desse então

Estrelas, medalhas, explosões,

Eternos olhares no inquirir

De causas, destinos, senões.

E o mundo só muda em quanto morre

Em chama infinita.

Suspeito de mapas vencidos,

Relatos de guias desonestos

E placas vendendo seus "Bem Vindo!".

Confio nas deixas do vento,

Nas queixas do agônico lamento

Que alcançam meus passos.

Florestas zumbis e clareiras

Discretas -- lembrança de querelas

Insanas demais até no abril.

Julguemos os mortos sem paz!

Viceja em remorso a gorda relva

Na espera sem fim.

Sei lá onde vão dar os atalhos,

As trilhas cediças, que destinos!

Prefiro tatear meu labirinto

Entre capacetes e rifles.

Só sei de partidas sem acenos

À margem, silêncios.

...

Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 20/04/2020
Código do texto: T6922756
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