Todos os poemas do mundo...

Tenho em mim

todos os poemas do mundo:

aqueles de amor, todos azuis,

aqueles carregados de desespero,

aqueles retorcidos, galhos de cerrado,

aqueles que têm gosto de tardes quentes.

Tenho em mim

todos os poemas do mundo:

aqueles que contêm indecências

que corariam um Nelson Rodrigues;

aqueles que falam de mocinhas recatadas,

filhas de zelosos pais; aqueles fúteis e vazios.

Tenho em mim

todos os poemas do mundo:

aqueles doces e fáceis, que são

decorados nas aulas de literatura,

até aquele que nunca virá, mas dança

vagamente nos devaneios da minha mente.

Tenho em mim

todos os poemas do mundo:

tenho a palavra como alvo, nunca

como arma; tenho o poema nas veias

e nas vias que percorro, e poemas surgem

do acaso, alguns retos e puros, outros miseráveis.

Tenho em mim

todos os poemas do mundo:

não tenho nem quero bandeiras,

não quero nem aceito voz embargada,

na poesia brinco com as hipóteses e acordo

palavras que dormem sossegadas pelos cantos.

Tenho em mim

todos os poemas do mundo:

não quero que a poesia mostre uma

insanidade que não há, nem um poema

que sangre aos olhos do leitor, quero-a solta

e suave para que penetre no labirinto das mentes.

Tenho em mim

todos os poemas do mundo:

aqueles cheios de veneno e secretos,

que se exibem loucos nas noites vagas.

Aqueles rebeldes, que lançam a verdade

na cara dos desavisados. E aqueles polidos.

Tenho em mim

todos os poemas do mundo

sendo narrados a mim ao mesmo tempo!