Paisagem Contemporânea

Tarde de outono,

o que faremos com os sonhos de ontem?

Somos agora como os quadros que admiramos,

uma beleza que repousa entre as paredes

e que traz latente em si os sonhos do mundo

por corações esfacelados no amparo da indiferença.

Luz da tarde,

meus olhos te bebem em ofício diário para quê?

Meu ócio é agora um barco ébrio vagando a esmo

em mil notícias amargas que me consomem,

A rosa dos ventos de meus exercícios de inutilidades

está manchada de números mortos

que eu acreditava serem pessoas.

Brisa da noite,

de que serve teu beijo em meu rosto esta noite?

Os eflúvios florais de teu hálito não mais me consolam,

mas me remetem ao tempo de te compartilhar

com o calor de outros corpos que te procuravam

para fugir da fuligem dos grandes centros;

Agora respirar tornou-se privilégio.

Campos verdes,

tua imensidão tornou-se uma liberdade presa na janela,

teu horizonte uma representação de futuro do passado,

teu verde uma esperança comida pelo Gado;

Agora diariamente centenas de nós somos plantados em ti

e a morte é o espetáculo aplaudido em teus campos

por arcabouços que eu acreditava serem humanos.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 29/04/2020
Reeditado em 15/10/2022
Código do texto: T6931727
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