Solidão que mata e afaga

Furtei daqueles bosques, rosa serena

Foste a mais impetuosa das lembranças

Que outros senão teus olhos, alva criança

Tens na natureza este traço de poema

Cada suspiro da relva, ou brisa do anoitecer

Fere os umbrais de minha alma, tão reclusa

Cada sibilo dos bosques, ou as lágrimas do entardecer

Nelas toco o escuro de memória difusa

Penso, logo existo; existo, logo sangro

Nestas claras palavras traço meu caminho

Creio, logo me iludo; me iludo, logo sangro

Nestas meras palavras tenho meu exílio

E tão logo me iludo, ou tão logo confirmo existir

Vago insone pela cura de meu veneno

Pois na mesma solidão em que a morte tenho

Tenho a vontade de persistir