Sem pertencer

Nomear é apossar-se, e não quero possuir nada.

Eu não me possuo!

Há uma grandeza no inominável,

no indefinível...

Fera colossal que jaula nenhuma contem.

É absurda a liberdade de não ter!

Pertencente de coisa alguma sou infinito

sem trajeto certo, ando mais

sem certezas, sou mais.

Nada!

Porque o tudo é completo,

terminado,

perfeito,

tudo é tudo.

E eu sou nada!

Tenho espaços,

frestas,

abismos...

Tenho justamente o que não tenho!

E há felicidade nisso,

um contentamento absurdo!

Meus vãos imensos, intensos,

ah, eles são meus sem me pertencer...

Se não sou nem minha, de quem poderia ser....

Se não tenho, o que poderia de mim ser cobrado...

Meus nadas dou de bom grado.

E deixo claro: em mim não há muros, janelas, portas.

Aqui os vales são profundos, os rios caudalosos,

o terreno é íngreme com encostas de causar vertigem...

não sou terra amiga de exploradores,

não ei de ser colônia de ninguém!