TORRÃO DE AÇUCAR

Lembro de quando começou.

Concorreu o tempo,

quente um pouco além da conta.

E a tranqüilidade do espaço,

tão devassado na normalidade.

Concorreram fome, sede, gestos,

e até as luzes esculpiram as cores

com que se tingiram em sabores

todos os momentos

daquele dia, de há tanto tempo...

De então para cá,

escrevi na brisas imagens

desse momento distante,

deixando-as povoar meu mundo

naqueles sopros de acaso,

que nunca mais deixei de encontrar

nos meus caminhos.

Cresci querendo colocar em palavras

essas imagens das minhas histórias,

como se fossem construções possíveis,

e não apenas ânsias inglórias,

virando frases esculpidas

em carinhos e cuidados.

Cresci forte, de braços preparados

para abraçar um novo dia assim,

revelado perfeito até ao fim,

em cristalizados momentos

de gostosas e suaves doçuras,

pairando acima de todas as loucuras,

como algo perfeito, de sabor concentrado,

um perfeito torrão de açúcar,

desfazendo-se em sedes

na garganta ávida dos meus dias.

Persigo-o, enchendo os dias de palavras.

Escrevendo-me,

e escrevendo o mundo...

Outubro 2007