Os humanos
Esses humanos tantas vezes
deixam-me indignada...
erram tanto e tão abusadamente,
mentem, enganam (a si mesmos e aos outros)
corrompem o que há de mais puro...
e tantas vezes fazem-me chorar,
ocultar meu rosto diante de tanta iniquidade...
esses humanos negam suas próprias raízes,
abandonando seu irmão, sozinho,
em meio à estrada..
assim, são tantas vezes desumanos, esses humanos...
fazendo e desfazendo guerras,
disseminando pestes..
erguendo altares ao dinheiro, e por ele
vendendo até sua alma...em suaves prestações
(mas com juros embutidos...)
enfim,esses humanos, assim como eu, estão por ai..
povoando o planeta..escondidos,
de sua própria alma..escondidos de si mesmos...
no entanto, esses mesmo humanóides,
deixam-me confusa...tantas vezes
por sua capacidade latente de esculpir a beleza
em estátuas imortais...
de preencher ruas, palácios, catedrais
com suas pinturas sagradas..quase inumanas
de escrever poemas em sublime exaltação...
melodias que ressoam em todos os tempos
pensamentos tão repletos de verdade...
e, apesar de tudo,com toda simplicidade
cultivarem seus campos de trigo, longe de tudo,
colocando o pão em nossa mesa...
e se acaso esse alimento a todos não chega...
se é negado a quem tem fome...não é isso
que concebe o artista, nem o agricultor...
quando se entrega a seu ofício, com amor.
assim são esses humanos, estranhos seres,
repletos de contradições, temores...
e, falando deles como seres abstratos
escondo-me de mim mesma a verdade,
de que sou parte de tudo isso...
e eu,que nem ao menos tenho em mim
o gênio atemporal do artista,
a prática diária do lavrador...
olhando todo erro, sem nada fazer,
prossigo sendo humana, como todos...até morrer.