O tempo antes da morte

O tempo antes da morte

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Ao vento os calendários...

E os seus cabelos de trigo a balouçar.

E no meu bravio cenho espesso...

Dois olhos vestais de tuas formas.

Legado de feridas, de uma fera enjaulada.

Trancafiada no tempo.

De tuas mãos recolho a herança...

Que correm nos dias, como as labaredas...

Que ao vento crepitam, na pisada da morte.

De uma só morte, é que é feita a mesma morte!

E tu, tu eras uma vez...

O logaritmo e o dígito soberbo das avarezas.

E caíram as chuvas...

Além do tempo daquele tempo.

Na negra flor das lembranças, em lampejos!

A onde lavro o chão de morrer...

E não vejo pressa alguma nessas pedras!

Nem ao campo e a prata ...

Nem na ferrugem lenta das águas.

Nem na flor do teu umbigo aberta...

Sobre a liberdade dos caminhos.

Entre as touceiras do capim cheiroso.

De merencórios olhos

Na sombra que se desprende do pau-d'arco

Uma tão formosa mulher

caminha em meu encalço.

Com seus olhos verdes

Rumo a cruz de ferro

Onde a ferrugem corroeu as armas.

E o fogo forjou outras mais belas

Dotadas da morte e suadas de sangue.

Arrotando os ventos da segunda feira

No calor dos campos e das flores áureas.

Onde fazem sombras essas sepulturas...

Colibris e flores nunca se defraldam.

A volver nos ventos chegam mil perfumes

E exalam nomes onde se esbaldam.

E exalam meu nome

Em um circio rasteiro

No murmúrio em viço

Que essas flores calam.

E a morte vermífuga

consome o bicho dessa carne em sanha

No losango podre dessa epiderme

Na putrefação do olhar se banha.

Nessa diurna pira, de fogo e paixão

Seu olhar me fala sempre algum recado

Aproveite a vida com o coração

Pois o tempo passa mais que apressado.

Francisco Cavalcante

Carpe Diem