Quando a boca colava em teu rosto

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"Não tenho nem coragem

De apontar meu coração

Pra o cano de um rifle

Nem pra boca de um canhão

Eu não tenho a tua asa

Pra usar as minhas penas"

(Capinan / Mirabô)

Eu não tenho nada que atraia pra te segurar,

só umas rimas que você ironiza e acha sem graça,

um canto antigo de trem e trilho,

um poema de perna capenga, que não consegue andar,

uma voz fraca, um rosto simples e a desgraça

de quem não quer mais parir nenhum filho.

Eu me embrenho em meio à multidão,

tenho lá meus bichos e minhas feras

mas arranho só as cordas do instrumento

quando as longas unhas dedilham o violão

e cantam coisas de dor e outras eras

como um ventinho só pra fazer um pouco de movimento.

Ainda assisto novelas, coloco tremas nas palavras,

os pingos nos is, e de nuvens, só sei se chove;

minhas viagens são pequenas e não levam a nada,

não fazem ninguém sair do ar, são travas

que não dão riso, não alimentam nem há quem as prove

porque se fecham na poesia que insisto em fazer acabada,

que eu risco na pele e escrevo com um pouco de sangue,

com o que sobrou da desventura, da minha desilusão

e pra que eu me lembre do motivo desse desgosto.

Eu não tenho nada, só um pouco de lodo do mangue

e recordações de uma menina que vivia de ilusão

e colava o poema, da boca em sorriso, no teu rosto.

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