A Vida não pára

Início do ritual diário:

Expectativa... burburinhos...

Abrem-se lentamente as cortinas, respirações contidas,

Império fugaz do silêncio!

De repente começa subir a fumaça-confusão embaralhando as vistas...

Onde está o certo?

O Errado?

Onde?!

A única certeza constante é a fogueira da dúvida no centro do palco crepitante...

Dela emergem desafiantes labaredas nuas dançando ao som ululante que enfeitiça e seduz vindo da orquestra regida pelo duvidoso maestro Destino.

Serpenteando de longe também adentram o palco, sorrateiras, as águas frias do "dever ser" cercando rapidamente as chamas...

Emoção e razão, medo e coragem...

Todos encenando o mesmo espetáculo: A vida!

Inicia-se a coreografia frenética!

Uns e outros se misturam, confundem-se, fundem-se...

A beleza da dança enfeitiça e a platéia rende-se inebriada,

Enquanto isso o rio vermelho vê seu leito trasformar-se em corredeiras vorazes e perigosas!

Corações pulsando na batida dos tamborins,

Respirações ofegantes como flautas insanas...

Fundem-se os instrumentos e os instrumentistas no auge do êxtase...

Mas o trovão-razão é implacável e rompe num estrondo impiedoso!

Atônito assombro.

Queda maciça das frontes arfantes, brusco silêncio, olhos no chão...

Catadupas de idéias sobrepondo os sentimentos relutantes

Prenunciam mais uma batalha!

Sopra uivante o vento frio do medo,

Trazendo nas suas rajadas as primeiras gotas d'água iniciando o ato final.

As labaredas reagem unidas arrancado da alma suas últimas forças... Continuam a coreografia que encanta e seduz prescindindo valores,

Enquanto de mãos dadas, precipita-se sobre elas, como manto à esconder-lhes a nudez, a chuva-razão...

Mentes confusas...

Cada lado defende-se aos gritos...

São conselhos antitéticos de uma platéia sem Eu...

...O Eu no palco...

Olhos vítreos...

Corpos extáticos...

Doce paralisia...

Enquanto isso, a protagonista Vida corre e foge pelos caminhos que escolhe...