Lucidez
Hoje eu não abri as cortinas.
Anoiteci sonhadora e amanheci lúcida
Da minha enorme pequenez
E impotência sobre tudo
Sobretudo sobre mim mesma.
Hoje eu recuso-me a falar
Sobre as minhas pseudo verdades
Sobre o mundo...
E sobre o bem e o mal.
Guardei a minha arma torpe-língua.
Amanheci lúcida e espantada
Debruçada na minha futilidade
Do valor ao transitório
Na minha efemeridade carnal
Na minha volúpia e orgulho.
Lúcida e debruçada
Sobre tudo o que passa
Na minha calçada sob a janela
Do lugar transitório aonde habito
Neste corpo emprestado e cansado
Neste copo aonde bebo
Amarga_mente
As minhas verdades sobre mim mesma.
Anoiteci menina tola
Amanheci quase morta
Hoje...
Eu não abri as janelas.
Um soco no estômago:
Um brinde à toda a lucidez.
Karla Mello
08 de Dezembro de 2020