MULHER MEDUSA

Negas aquilo que mais quereres

O querer inegável que não dominas

Inconsciente a encontrares.

Sonha com aquilo que lhe escapa

O inapreensível sensível

Deslumbra o impalpável.

Confessa o que resigna entregar

O elogio da delicia a excita

Catexia, fremindo o diáfano.

Não olha, pois seu olhar petrifica

Abre mão das suas defesas

Pra não sentir as causas e os efeitos.

Captura o inverso, em seus entraves

Grita no íntimo o infinitivo

Quando dá aquilo que não queres receber.

Medusa, o passado que é feito de pedra

Olhar que desmantela e não olha para outra alma

Porque os olhos veem apenas sombras e simulacros.

Olhar ardente, petrifica pelos olhos imanentes

O seu olhar é memória de aspirações nascentes

Aberto ao infinito resplandescente de falas.

Não privatizas o olhar como construção de poder

Produtora de venenos lentos e agudos

Para um cego que conhece sua cegueira intensa.

De Fernando Henrique Santos Sanches - Fernando Febá

Fernando Febá
Enviado por Fernando Febá em 10/01/2021
Reeditado em 12/01/2021
Código do texto: T7156474
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