VISÕES PROFÉTICAS

O reflexo do asfalto sobre as nuvens

Precipitou crases em meu rosto

Preposicionou minha euforia singela

Enquanto minha janela gritava meu nome

“ Homem!”

“Escute o passo marcado e gotejante”

“Alguem corre enquanto toca o sino”

Molhado, do outro lado do rio tinto

Passava volante sem bocejo

Distinto corpo análogo e servil

Que de ancião não carregava cajado

E pelo tenteio não era pueril

Abrochavam meus olhos de fastio

E a prosopopéia ainda povoava o devaneio

De sopetão o brado atentou-me de novo

“Mire homem!”

“Aqueles passos chovem já em tua varanda”

“ E mais fraco está o badalar do sino”

Irritado com tal janela desaforada

Mergulhei meu rosto no conhaque

Para despertar do sono galopante

Fixado os olhos focaram de modo leniente

Os pés que já molhavam minha sala

Enfim, o tempo calou a voz do sino

E a imagem se fez nítida em minha frente

Sabia que não era de velho tampouco de menino

De sobressalto a certeza foi atormentante

O ser que derramava gotas em meus pés

Era o porvir da antítese do que vi no espelho ontem

Os trapos esvairidos de um homem que não morreu

O cão vadio, embriagado e esgotado...

Era eu