Folha Morta
Eu sou a folha que cai no chão
Expulsa da árvore,
Escolhida a dedo pelo acaso,
Dormindo na quentura do asfalto
Que treme nas entranhas
Enchendo-a de medo.
Enquanto sente o calor
Queimar sua pele amarela,
Anseia o sopro do vento
Para levá-la ao anonimato daquela
Vazia viela.
Mas não tem vento.
E se não tem vento, o tempo
Carrega os carros que vêm
Passando no sinal verde.
- verde eram as outras
ainda presas na árvore,
antigas companheiras -
O vento não veio mesmo.
A pequena folha morreu no asfalto esmagada
E a visão do céu foi lhe foi tomada
Por pneus negros
De borracha.