Nóis do sertão

Ó seu moço que véve na cidade

De mim não ria nem faça troça,

Nóis véve na simpricidade

Da vidinha daqui da roça,

E nóis é muito dos feliz

Disso temo um grande orgúio

Purque Deus assim o quis.

Nóis pranta e nóis cóie

De dia nóis labuita e trabáia,

A noite nóis reza pra que a chuva móie

Tudo que pranto o home,

Pra que floreça nossa pranta

E mate a nossa e vossa fome.

Moço aqui nóis peleia que dá dó

E não temo muito lucro não,

Arguém que não sei quem é

Não valoriza o que prantei eu

Meus fios e minha muié,

Esse tar de atravessadô é quem ganha dinhero

E no meu borso fica apenas o pó.

Moço nóis semo pobre

E também semo humirde,

Mais nosso coração é nobre

Disso ocê não duvide,

Vivemo da nossa terrinha

Herança de meu véio pai,

Que aqui viveu com minha mãezinha

E pode ter certeza moço

Esta terra, da minha mão não sai.

Moço quero te dá um conseio

Ocê qui num sabe do arado manuseio

Não venha aqui parpitá,

Do meu trabáio conheço eu

Cuida do trabáio seu

Que também nao parpito lá.

Moço, ocê que se orguia da sua muié

Diz que chera a jasmim,

Orgúio também tenho eu

Da muié que cuida de mim,

Se a tua adora uma tar loção

A minha gosta memu é do pé no chão,

E pra mim o que importa seu moço,

O que é de naturar

A minha também tem iguar.

Então moço, vórto a ti aconseiá

Não venha no sertão parpitá,

E di assim trato feito,

Eu também não parpitarei por lá.

Jeff Condol
Enviado por Jeff Condol em 31/10/2007
Reeditado em 01/11/2007
Código do texto: T718044
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